PRIVATIZAÇÃO DA SABESP PREVÊ DEMISSÃO EM MASSA E AUMENTO DO LUCRO DOS ACIONISTAS
5 de julho de 2024A receita é sempre a mesma e comprova que a privatização de serviços essenciais acarreta graves problemas para a população e os trabalhadores. A Equatorial Energia, única empresa a fazer oferta para se tornar acionista de referência da Sabesp, em São Paulo, informou que pretende demitir trabalhadores e aumentar a distribuição de dividendos aos acionistas. Esse anúncio e o processo de venda da estatal de saneamento paulista servem de alerta para a população de Minas Gerais, que também enfrenta a ameaça de privatização da Copasa, em projeto obsessivo do governo Zema.
O negócio ainda não foi fechado, mas a Equatorial já antecipou seus planos em apresentação para investidores, na terça-feira (2/7). A falácia de aumento da eficiência vai ser a justificativa para a demissão de trabalhadores e a ampliação do lucro dos acionistas, repetindo esquema adotado pela empresa onde já atua. Quando entrou no Rio Grande do Sul, com a privatização da estatal CEEE Distribuidora de Energia, demitiu mais de 1.200 trabalhadores.
Demissões em massa, sobretudo em empresas de serviços essenciais, geralmente acarretam um cenário de caos, com precarização das condições de trabalho, piora na qualidade do atendimento e redução do acesso às populações mais vulneráveis.
Mais grave ainda é que a Equatorial não tem experiência no setor de saneamento e abastecimento de água e coleciona maus resultados onde opera, como no setor elétrico, em que foi considerada a pior prestadora de serviço pela Aneel. A empresa tem entre seus acionistas as gestoras de recursos Opportunity e Blackrock. A Equatorial pretende pagar apenas R$ 6,8 bilhões para adquirir 15% da Sabesp e se tornar sócia estratégica do governo paulista na Sabesp, com o direito de indicar o presidente da empresa e três dos nove integrantes do Conselho de Administração.
A Equatorial demonstra, com as medidas propostas, descaso com a população e os trabalhadores para favorecer os acionistas. A empresa destacou que irá redefinir a relação com os sindicatos e implementar a “cultura do dono”, com programas de demissão voluntária, reestruturação de times e estabelecimento de uma cultura voltada a resultados.
O suspeito processo de privatização da Sabesp é envolto em irregularidades. O Sintaema, sindicato dos trabalhadores do saneamento de São Paulo, e o Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas) contestam, junto ao Tribunal de Contas estadual, a venda das ações da estatal e o valor que o governo bolsonarista de Tarcísio de Freitas estipulou para a privatização, apontando que “a divergência entre o valor de avaliação e o preço de venda configura uma alienação em preço vil, caracterizando potencial lesão ao erário”.
As entidades recorreram também o Ministério Público de São Paulo, denunciando o escandaloso preço pago por ação pela Equatorial (R$ 67,00), muito abaixo do real valor da ação da Sabesp, cotada em R$ 74,97 na bolsa de valores B3 em 28 de junho, e também do resultado obtido pelo Relatório de Avaliação Econômico-Financeira (Valuation), de R$ 85,58.
Outro fato escandaloso é que a atual presidente do Conselho de Administração da Sabesp ocupou, até dezembro de 2023, cargo no conselho da Equatorial. A presença em ambos os conselhos, embora não seja ilegal, configuraria conflito de interesses, já que a Equatorial pode ter sido beneficiada com acesso a informações privilegiadas sobre a privatização.